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Henry Burnett apresenta 'Belém Incidental' nesta sexta

Os românticos reinventaram um sentimento muito especial, o da nostalgia, da saudade da terra natal. Sentimento avassalador, transbordante, que eles transformaram em poesia, em literatura, em arte, em filosofia. A experiência do infinito se opunha e se com

Os românticos reinventaram um sentimento muito especial, o da nostalgia, da saudade da terra natal. Sentimento avassalador, transbordante, que eles transformaram em poesia, em literatura, em arte, em filosofia. A experiência do infinito se opunha e se complementava com a constatação da fugacidade do instante. O mistério da natureza só poderia ser desvelado se a transformássemos em princípio vivo e criativo. Duplo movimento da nostalgia, da saudade, que ao mesmo tempo instaura, não sem uma parcela de dor, tanto a experiência de um vazio quanto o desejo de criação.
Penso nisso ao ouvir as dez músicas que compõem o mais recente trabalho de Henry Burnett. Amigos de longa data, parceiros de trabalho acadêmico, não posso deixar de relacionar “Incidental” com o fato de que esse ano faz vinte anos que Henry começou a deixar Belém. Sua música, seu trabalho como artista, é impensável sem uma ligação visceral com sua cidade, com seus cheiros, sua comida, sua chuva, seus problemas graves, sua melancolia, sua monotonia e seu espírito festivo. Onde quer que esteja, para onde quer que vá, família, livros e seu inseparável violão são seus acompanhantes. De suas temporadas de estudos e pesquisas no exterior, em especial em Berlim, sempre resultam novas canções, mesmo que elas não tenham sido compostas lá. E novos livros. Mas esse assunto – livros – não é o de agora.
O caráter autoral do trabalho de Henry salta aos olhos. Autoral, significa aqui, uma coisa muito simples: permanecer à margem do cânone do sucesso ou mesmo daquilo que leva a etiqueta de “sons do Pará”. Talvez, poder-se-ia objetar, que Henry não vive de música e por isso pode se dar ao luxo de querer ser um “autor” e não um “reprodutor” de fórmulas que possam fazer sucesso. Entretanto, os que conhecem o seu trabalho acadêmico sabem que entre sua vida como professor e o seu trabalho artístico existe uma ligação íntima, necessária eu ousaria dizer, embora eles se realizem por caminhos diferentes. Profundo conhecedor da história da música, incluindo é claro, a brasileira, o trabalho artístico de Henry é um diálogo potente com essa história. Para ele, se o pertencimento a uma terra, a um chão, se o seu enraizamento num solo – o do Pará – lhe é absolutamente decisivo – “É nós”, dedicada à d. Zulaide, sua mãe, é a síntese emocionada dessa raiz – por outro lado, sua relação com tudo isso, alimentada pela nostalgia, não resulta num lirismo mais corriqueiro, que se compraz em manipular nossos símbolos regionais, ao gosto do freguês.
Admirador, leitor e ouvinte dos grandes poetas, de Bandeira e Drummond a Cartola, Caetano e Ruy Barata, Henry encontra nos seus principais parceiros – Paulo Vieira, Edson Coelho e Renato Torres – preocupações comuns, como se eles formassem uma pequena “trupe”, que a cada apresentação se afina. Nessa perspectiva, “Incidental” é pleno de poesia, que vai desde o lirismo cortante e trágico de “Isso é viver” até outra variação desse mesmo lirismo, que explode nos sons e palavras que se cruzam como fogos de artifício em “Oswald canibal”. Poesia que se expressa também na capa do CD, no “Pescador de Soure”, de Luiz Braga. Mas, não esperemos nada consolador nem confortador, pois “Entremãos” não há nenhuma união feliz e duradoura, mas o abismo, a vida e, é claro, a morte; essas “Vozes do Norte” falam de sombras que encobrem a vida real, sem nenhum ufanismo ou celebração apologética. Sempre dançante, numa moldura sonora que podemos chamar de “pop”, “Incidental” persegue o sonho nietzschiano da transfiguração da dor inerente à existência em hino à alegria. Pena que Henry não incluiu a sua versão dos sucessos de Alípio Martins!
ServiçoLançamento do CD “Belém Incidental”, de Henry BurnettCasa do Fauno (Rua Aristides Lobo, 1061, Reduto)Quando? 22 de setembro, 22hIngressos: R$ 15(Ernani Chaves)
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