Mizar Bonna lança hoje obra em que fala de sua vida a partir da perspectiva de 80 Círios

Desde menina, a família dela considerava o Círio algo extraordinário. Na casa da avó, o almoço do Círio ocorria nos três domingos de outubro. Eram almoços grandes, com toda família. A trasladação e a procissão passavam todo ano na frente da casa, na antiga avenida São Jerônimo, hoje José Malcher. O pai fazia um palanque dentro do jardim para a família assistir àquela movimentação. E assim, ao invés de contar “primaveras”, a poeta e pesquisadora Mizar Bonna preferiu contabilizar os anos de vida em “círios”. Íntima relação que a levou ao livro “Meus 80 Círios” – o 12º de sua carreira, o sexto sobre a grande manifestação de fé dos paraenses.

Segundo a própria autora, este é um livro diferente dos anteriores, escrito “após várias indiretas do filho”, o jornalista Mauro Bonna. Ela mantém dados e informações fiéis, como boa pesquisadora que é, mas com escrita mais leve e, pela primeira vez, mesclando ali suas próprias vivências, lembranças e opiniões. “Tudo de forma bem-humorada, gostosa de ler”, garante. O lançamento da obra ocorre hoje, às 18h, na Casa de Plácido, no Centro Social de Nazaré, pelas editoras Verde e Guia.

“Tem dados do Círio, aponto alguns erros dos vitrais [da Basílica Santuário], conto algumas curiosidades, coisinhas que eu me questionava como ‘por que a imagem foi para o Glória em 1920?’. É um livro que vai servir de alguma forma para quem é pesquisador, mas é principalmente um livro mais leve, de vivência desses anos ajudando na Festa de Nazaré. Foram 43 anos, 11 mantos criados e desenhados”, antecipa Mizar, ressaltando que nesse currículo não há nenhum manto bordado por ela.

Para trazer algumas histórias que ainda não foram contadas, ela passou quase um ano escrevendo o livro. “Escrevia os capítulos e mandava para o Padre Giovanni. Coloquei ele para ser o ‘tesoura’ (risos). Tem que ter alguém valente para cortar, para ser o moderador, dizendo ‘olha, melhor não entrar essa’”, brinca a autora, que também afirma já ter provocado algumas polêmicas com suas opiniões sobre a Festa.

Mizar Bonna traz no currículo 11 mantos criados para a Santa (Foto: Divulgação)

Procissão que transcende tudo

Aentrada de Mizar Bonna na organização da Festa de Nazaré se deu em 1975, quando a Diretoria da Festa era formada apenas por homens. “Eu chamava de ‘clube do Bolinha’, de forma bem-humorada, mas era verdade”, recorda. De suas próprias memórias do Círio, conta que o único do qual não participou foi quando a filha estava internada em São Paulo.

“Meu marido disse: ‘vou lá pedir mais uma vez para Nossa Senhora pela nossa filha’. Ele fez uma oração muito bonita. E depois voltou para o hospital comigo. Esse foi o único Círio que só vi pela televisão”, recorda. Mas ela diz que também houve “momentos lindos”. O seu favorito é quando fica esperando a passagem de Nazinha em uma esquina e aprecia o povo que vai atrás da berlinda cantando e rezando.

“O momento da corda é o único momento no mundo que se realiza o sonho de Jesus, de que todos sejam iguais. Não tem patrão, pobre, ladrão, honesto. Todo mundo é devoto. Lembro de um Círio em que alguém tentou tirar da corda um bandido e os outros romeiros não permitiram. Disseram: ‘aqui ele é devoto como todo mundo’ e assim prosseguiram. A corda é uma coisa que transcende tudo”, diz Mizar, resumindo seu melhor olhar sobre o Círio.

Autógrafos

Lançamento do Livro “Meus 80 Círios”
Quando: Hoje, às 18h
Onde: Casa de Plácido, no Centro Social de Nazaré (Viela Coimbra, 1-113 – Nazaré)
Quanto: Aberto ao público

(Lais Azevedo/Diário do Pará)