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Roberto Crema fala sobre holística, crise do desencontro e terapia da escuta

O terapeuta Roberto Crema acredita que o encontro é transformador. Atuante há mais de 30 anos em formações humanísticas, ele é o reitor da Universidade da Paz (Unipaz), criada para buscar soluções para os desafios das relações humanas e que hoje tem ativi

O terapeuta Roberto Crema acredita que o encontro é transformador. Atuante há mais de 30 anos em formações humanísticas, ele é o reitor da Universidade da Paz (Unipaz), criada para buscar soluções para os desafios das relações humanas e que hoje tem atividades em diversas partes do mundo. Atualmente ele orienta uma formação chamada “Terapia da Inteireza”, na própria UNIPAZ e Brasília, e exerce atividades didáticas focadas na abordagem transdisciplinar holística no Brasil e no exterior. Em Belém pra um curso presencial, ele conversou com a reportagem do Você para explicar melhor o que se trata a formação e a suas iniciativas.

ENTREVISTA COM ROBERTO CREMA

VOCÊ TEM VÁRIOS LIVROS E DESTA VEZ O QUE APRESENTA EM“O PODER DO ENCONTRO - ORIGEM DO CUIDADO”?

Tenho dito há mais de 30 anos que ninguém transforma ninguém e ninguém se transforma sozinho. Nós nos transformamos no encontro. Entretanto, não é difícil constatar que vivemos uma crise do desencontro. O desencontro consigo mesmo, com os outros, com a coletividade, com a natureza e com o próprio mistério da vida. Por isso, precisamos de uma escola do encontro. A Unipaz tem sido há 30 anos no Brasil, mas também se irradiando para outros países, essa escola do encontro da razão com o coração, da sensação com a intuição, da inteligência masculina com a inteligência feminina. Em última instância, da ciência com a consciência. Vivemos um momento crítico global e a nossa tarefa, e é um grande desafio, é transformá-la ocasião de aprendizado, de evolução e de encontro. A Unipaz tem buscado responder esse desafio com abordagem inclusiva do encontro, para colaborar para que essa crise possa se transformar num trampolim, para uma civilização, quem sabe do encontro.

VOCÊ TEM ATUADO COMO TERAPEUTA HÁ MAIS DE QUATRO DÉCADAS.O QUE VOCÊ TEM PERCEBIDO NAS RELAÇÕES HUMANAS AO LONGO DESSE PERÍODO?

De fato, tenho sido terapeuta e educador e não é difícil perceber que as pessoas encontram-se neste momento numa crise de falta de sentido e integração, que traduz também por falta de escuta e cuidado. O terapeuta é alguém capaz de se encontrar consigo, com o outro, com os outros, com a natureza e a partir daí facilitar o processo de transformação. Isso ocorre se existir uma escuta que não seja meramente audição, que seja também interpretação, que cada sintoma da ecologia individual de um ser humano, seja social de uma sociedade, seja ambiental, cada sintoma é uma mensagem que recebemos e precisa ser escutada e interpretada. O sintoma não é ruim, é uma advertência e muitas vezes denuncia de desvio e contradição, então, antes de simplesmente querer se livrar do sintoma, precisamos interpretá-lo e através desse processo de compreensão, naturalmente transcendê-lo.

COMO É ESSA ESCUTA? O QUE O TERAPEUTA FAZ NESSES CASOS?

E essa terapia da escuta e da interpretação que venho praticando ao longo dessas décadas, e a Unipaz, na qual tenho sido operário desde o início, é espaço fecundo de uma pedagogia que possa nos ajudar a reconstruir esse projeto educacional que tanto precisamos, a educação integral, não apenas cognitiva para aprender e fazer. Isso é importante, mas é preciso ir além, como diz a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), há cerca de 20 anos. É preciso também aprender a conviver e sobretudo aprender a si. Então, a Unipaz tem sido esse espaço onde buscamos desenvolver abordagem integrativa na arte de educar e o Colégio Internacional dos Terapeutas, que surgiu da Unipaz, propõe terapia centrada no cuidado integral, não apenas do corpo, mas da alma, das memórias que nos habitam, desenvolvendo inteligência emocional, relacional, onírica, cuidar dos universos dos sonhos, e principalmente aprender a cuidar pela abertura da consciência, de onde jorram valores de ética do coração. Então, são desafios conjugados de educação e cuidado integral.

COMO A UNIPAZ ATUA NESSE SENTIDO?

A Unipaz foi sonhada na França por três pessoas: Pierre Weil, primeiro reitor, Monique Thoenig, psicóloga transpessoal, e o Jean-Yves Leloupe. Floresceu sobretudo no Brasil, quando com Pierre, realizamos o primeiro congresso holístico internacional, em 1987, que se traduzia por jogar pontes sobre todas as fronteiras e buscava o diálogo criativo, heurístico, entre a filosofia a ciência, a arte e a tradição espiritual. Um encontro da ciência com a consciência. O congresso foi um marco significativo, há 30 anos, e o governador do Distrito Federal na época, José Aparecido, que foi convidado para abrir o congresso, ao escutar representantes internacionais disse no simpósio de encerramento, quando ele se sentou conosco e escutou os conferencistas, que após ouvir palavras impactantes, o congresso não poderia acabar. E disse: ‘vamos criar uma universidade internacional holística da paz’. Foi assim que surgiu a Unipaz que se difundiu para diversas cidades do Brasil e Portugal, França, Bélgica. Nós, há 30 anos, estamos desenvolvendo, uma educação integral.

QUAL O OBJETIVO DESSA ARTICULAÇÃO TODA?

Que possa responder ao grandes desafios do nosso momento. Partimos do princípio que não é com o paradigma da lógica que o problema será resolvido. É preciso de um outro paradigma e uma outra lógica. O que nos tem sustentado é a abordagem holística e transdisciplinar. A holística representa o encontro entre a parte e o todo para atender o desafio de pensar globalmente e agir localmente e a transdisciplinar representa o desafio do diálogo, fundamental nesse momento de tanto desencontro e dilaceramento, conflitos, às vezes ideológicos que nos levam às guerra, religiosos, vivenciamendo essa humanidade dilacerada por conflitos infindáveis. Na Unipaz contamos uma história da floresta que pegava fogo e um beija-flor que pegava uma gotinha d’água e jogava no meio do fogo, e com as asas chamuscadas, resilientemente, jogava outra gotinha no fogo novamente e passava um tatu que vendo aquilo perguntou se o beija-flor, com ridículas gotinhas, ia conseguir apagar o fogaréu. E o pássaro respondeu que não, mas que estava fazendo a sua parte. Propomos que cada pessoa faça a sua parte. Se cada pessoa assumir uma parcela da responsabilidade nessa crise global podemos inaugurar uma civilização mais humana, integrada, amorosa, consciente, enfim, uma civilização capaz de amar e cuidar com justiça social.

O livro mais recente de Roberto Crema faz conexões com diversos autores (Foto: Divulgação)

A consciência da inteireza

Autor e coautor de mais de 30 livros, como “Introdução à Visão Holística”, “Saúde e Plenitude”, “Antigos e Novos Terapeutas”, “Pedagogia Iniciática” e “Mensagens do Deserto” - ele também aborda sobre seu mais recente título, “O Poder do Encontro - Origem do Cuidado”, no qual ele apresenta a sua perspectiva da consciência da inteireza. O livro traz ainda sua conexão com autores e pensadores como Pierre Weil, Moreno, Paulo Freire, Carl Rogers, Eric Berne, Frederick Perls, Rolando Toro, Basarab Nicolescu, Edgar Morin, Euripedes Barsanulfo e, ao mesmo tempo, ousa ao trazer uma leitura do Livro Vermelho, do psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung; e da saga de Joana d’Arc, da fábula do Pequeno Príncipe.

MOVIMENTO - SOBRE A UNIPAZ

A Unipaz possui 18 unidades e foi fundada pelo professor doutor Pierre Weil em Brasília, no ano de 1987. Como parte da Rede Internacional de Cultura de Paz, a Unipaz é um movimento de educação, cuidado e práticas integrativas para o despertar de uma nova consciência e sustentabilidade com ética e respeito a si mesmo (Ecologia Interior), aos outros (Ecologia Social) e à Natureza (Ecologia Ambiental e Planetária). Em breve, a capital paraense terá um polo da instituição.

(Dominik Giusti/Diário do Pará)

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