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Escritora paraense lança hoje “D.O.C.”, livro em que fala de conflitos de classe

Livro fala de conflitos de classe, questões feministas e aprofunda a abordagem sobre o comportamento machista nos romances (Foto: Divulgação) O contraste social entre Diana, uma garçonete de um bar, e Estêvão, frequentador do espaço, é o principal ingred

Livro fala de conflitos de classe, questões feministas e aprofunda a abordagem sobre o comportamento machista nos romances (Foto: Divulgação)

O contraste social entre Diana, uma garçonete de um bar, e Estêvão, frequentador do espaço, é o principal ingrediente para a narrativa veloz do mais recente livro da escritora paraense Bruna Guerreiro, “D.O.C.”, que será lançado hoje, às 18h30, na Casa do Fauno, em Belém. A história tem um quê de conflitos entre classes sociais - ela pobre e ele rico, e aborda também relações de poder, questões feministas e expõe o típico comportamento machista. Declaradamente de “esquerda”, a autora acredita que a sua obra pode contribuir para discussões sociais e por isso, deu uma virada nas suas palavras.

“Sou mesmo, de esquerda, feminista e romancista. Nem sempre são coisas fáceis de coordenar, mas é o que eu sigo tentando fazer. Amo escrever romances, gosto de destrinchar as relações e as reações das pessoas e gosto de fazer isso com situações e circunstâncias cotidianas, que a gente identifique. Um dos meus principais nortes é criar mocinhos que não sejam machistas - isso ainda é raridade em romance - e relações que não sejam desequilibradas nem fixadas nos papéis de gênero. Nesse livro eu me lancei um desafio diferente: eu quis fazer um mocinho que ia, sim, ser um babaca”, revela.

A ideia é pontuar todas as babaquices cometidas por Estêvão, que ele próprio, evidentemente, não percebe. O livro mostra essa trajetória de tropeços como algo estrutural e que faz parte do cotidiano do homem, algo arraigado em nossa cultura. Bruna admite que o “camarada” não é má pessoa, mas age preso à naturalidade com a qual seu comportamento é legitimado socialmente. Mas isso acaba provando várias questões para Diana, que tenta mostrar também a sua posição à ele. A autora admite que foi complicado escrever dessa forma, tanto que sua primeira leitora ficou com ódio do personagem e ela resolveu alterar o rumo de Estêvão.

“A minha primeira beta leitora. E eu privilegiei neste caso mulheres feministas para lerem o primeiro esboço. Quando leu o primeiro terço do livro, inacabado ainda, ela odiou o cara. Quase morri de susto. Mas não desanimei, segui a linha que eu tinha planejado e, depois que terminei, mandei pra ela novamente. E ela adorou. Eu acho que essa opção por inverter foi parte dessa minha tentativa de fazer romances reais. A gente não pode vender a ideia de que homem não faz babaquice, embora seja importante lançar modelos de mocinhos que não são babacas. Mas é preciso também acreditar que um cara é capaz de pisar na bola e ser levado a perceber isso e entender a situação como ela é”, comenta Bruna Guerreiro.

Mesmo com a mudança no aspecto psicológico de Estêvão, a escritora garante que a trama se manteve, sem alterar muito os rumos da história. E como o livro ainda estava inacabado, a versão de teste foi sendo aprimorada e a jornada do rapaz foi sendo delineada a partir desse novo olhar - o que ela diz ter sido especial para que o tom desse personagem fosse alterado. Após lançar 14 livros de forma independente, ela acredita que esta temática será uma guinada em suas obras. E espera que a literatura em geral possa também ter essa guinada.

“Leio bastante romance e já percebo algumas autoras que parecem ter essa mesma ideia em mente, reconstruir o romance em novas bases. Percebo que algumas autoras têm inclusive mudado alguns detalhes que dá pra observar dos seus primeiros trabalhos para os mais recentes, como a Julia Quinn. São detalhes, mas eram coisas que me irritavam como leitora nos primeiros livros dela e que eu não encontro mais hoje em dia - pequenos detalhes de mocinhos mais machistas, papéis de gênero muito delineados e fixos. O caso é que, em romance, isso geralmente é sutil, pois você está falando de amor entre os dois personagens, e não de guerra”, explica, garantido que dá pra ser militante sem ser belicoso.

Bruna destaca ainda que por lidar com um determinado público, que tem suas expectativas quanto ao que vai ler e suas referências de romances favoritos, não pretende entrar em embates e preza pelo gosto dos seus leitores. “Não é por condescendência, mas eu realmente não pretendo entrar num embate com leitoras de romance, sou uma delas. Só quero mostrar um ponto de vista diferente”, afirma.

Já Diana apresenta, nessa trama, o conflito interno que muitas mulheres vivem, já que há o desejo de ficar com Estevão, confiar em alguém por quem você sente uma atração, mesmo que haja desconfiança em relação à ele. Bruna adianta que ela é uma mulher jovem mas muito alerta, moldada de forma meio endurecida, mas que o resultado dessa couraça em sua vida é o melhor possível.

“Ela realmente não precisa de ninguém. Mas há um momento em que ela quer. Isso a tira dos trilhos um pouco, ela não sabe muito bem o que fazer, e isso surge num momento de embate entre os dois. Há alguns pontos interessantes na Diana. Ela não acredita que possa haver justiça quando um homem age mal com uma mulher e, quando essa justiça acontece, ela realmente vibra, como mulher. É como achar dinheiro no bolso da calça. Ela não esperava por isso. Ainda assim, por mais que ela queira, ela não consegue plantar um sentimento de vingança em relação a Estêvão. Ela simplesmente se sente”, comenta a autora.


Aposta na escrita independente

Bruna Guerreiro é autora independente e começou a publicar em 2013, em formato ebook pela Amazon. Ela diz que foi um teste, já que possuía várias coisas escritas e outras tantas em produção, e acreditou na proposta de livro virtual após ser recusada em algumas editoras - o que por algum tempo a fez sentir-se uma fracassada. Outro fato que a motivou a apostar na escrita independente foi a sua gravidez. A nova plataforma traria mais comodidade. E desde então, sua carreira se dá dessa forma, mas ela pondera que não se trata de esnobar as editoras.

“Longe disso, mas eu meio que deixei isso de lado porque simplesmente funciona. Não é nada de vendas estratosféricas, mas eu aprendi a realmente amar essa independência. Tem uma característica do meu trabalho que casa muito mais com a publicação independente do que via editora: eu escrevo muito. Eu produzo muito, mesmo. Eu tenho, no momento, 14 títulos publicados na Amazon, em menos de quatro anos, entre romances, novelas, contos e uma antologia. Quase todos eles eu tenho também em livro físico, pelo Clube de Autores. Eu cuido de tudo, capa, revisão, diagramação, fui aprendendo. Nenhuma editora toparia publicar tudo isso, eles precisam de tempo para trabalhar cada título no mercado, comercialmente”, avalia.

Bruna também acredita que acabou se perdendo e parou de ficar insistindo em apresentar originais às editoras - não saberia o que da sua produção poderia se encaixar. Mas ela adianta: “contradizendo tudo isso que eu acabei de falar, eu estou de papo com uma editora nova que está a fim de fazer uma parceria que respeite essa minha independência, essa verborragia fictícia que eu tenho. Se rolar, ótimo. De uma forma que seja bacana pros dois lados. Eu falo de política na internet, de feminismo, sou cheia de opinião, e tem editora que não curte isso. Não tô muito a fim de ser o produto de alguém”, afirma.

O sonho de ter a chancela de uma editora foi refeito e hoje ela se sente satisfeita com o que vem colhendo. “Já estive na Flipa, no ano passado, estarei de novo este ano, se tudo der certo, tem livro meu na Fox, na Amazon, tenho um grupo de leitoras no Facebook, e agora vou fazer esse primeiro evento de lançamento. As coisas estão acontecendo e dá um certo gosto saber que sou eu que estou cuidando pra que elas aconteçam. Tudo é aprendizado e conquista”, finaliza.

Autógrafos

Lançamento do livro “D.O.C.”, de Bruna Guerreiro
Quando: Hoje, às 18h30
Onde: Casa do Fauno (Rua Aristides Lobo, 1061 – Campina)
Quanto: Gratuito

(Dominik Giusti/Diário do Pará)

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