Marcas autorais lançam hoje nova coleção de joias e produtos de moda

“O paraense é um modo de vida, o paraense é um estilo. E esse estilo foi denominado ‘paraensismo’, com todas as nossas gírias e o nosso dia a dia”, define Camilla Amarall, ourives e produtora de joias. E foi assim que expressões como “já-me-vu”, “veropa” e “espia”, além de manifestações culturais e a poética da vida ribeirinha e urbana em Belém, tornaram-se matéria-prima para o desenvolvimento criativo da coleção de joias e produtos de moda nomeada “Paraensismo”. O lançamento ocorre hoje, às 19h, no Espaço São José Liberto, em evento aberto ao público.

Um amplo conjunto de colares e brincos, anéis, gargantilhas, braceletes, pingentes, vestuário e bolsas que estão na coleção serão apresentados em desfile coordenado pelo produtor de moda Diogo Carneiro. As peças possuem formas diversificadas: geométricas, com ângulos retos, detalhes orgânicos fluidos, inspiração art decór, gestual leve da dança do carimbó, ícones ribeirinhos e formas pesadas e robustas como as mangas de Belém. Tudo isso resultado do trabalho de 25 marcas locais, que permanecem com as peças em exposição no local até o dia 10 de setembro.

Com a direção criativa do consultor e designer Erivaldo Jr., a proposta de usar expressões locais surgiu após a apresentação do caderno “Senai Mix Design de São Paulo”, promovido pelo Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), que apresentou as macrotendências de comportamento e consumo, entre elas a relação das criações com a linguagem, as palavras. Edivaldo decidiu trazer isso para a realidade paraense e suas expressões e, assim, o que as pessoas vão encontrar é uma coleção em que “palavras se transformaram em objetos que para o paraense a expressão é familiar; para o turista é, no mínimo, curioso”.

Sobre os experimentos processados para a geração da coleção destacam-se ainda as pesquisas, produção e aplicação de dois materiais inovadores: a resina M.A.R.I.A., de autoria da designer Nilma Arraes, e as gemas vegetais criadas pelo pesquisador Paulo Tavares e produzida por Mônica Matos. Nos produtos de moda foram utilizados ainda ágata verde, fibra de miriti, couro de peixe, entre outros. Já nas joias será possível encontrar materiais como rubi, cerâmica, pérola de água doce e quartzo fumê. Técnicas de bordado à mão e pintura à mão, além de estamparia autoral, também dão originalidade às criações.

Lifestyle local foi base de pesquisa das 25 marcas

Para não fugir do foco das figuras de linguagem e expressões da cultura paraense, os participantes realizaram uma imersão em suas memórias e sobre o lifestyle local. Neste processo foram realizadas pesquisas de verbetes da região, de músicas e poesias, além do estudo de imagens que estimulassem e inspirassem a criatividade dos designers.

Ana Lúcia, da marca Ana Everdosa, conta que assim que se deparou com a palavra “pavulagem” sabia que tinha encontrado um bom ponto de partida para sua coleção. “Eu me lembro da minha avó falando essa palavra e eu fui pesquisar... Ela vem do pavão, que é exuberante, pomposo, quer ser o centro das atenções”, conta.

Baseado nisso, Ana escolheu trabalhar com escamas, que já têm um brilho natural, além de cascalhos, pedras, resina, algumas folhas e banhos de ouro. Afinal, ela conta que a palavra logo a remeteu ao dourado.

“Tem que brilhar, o pavulagem brilha por si mesmo”, descreve. O próprio jeito de criar peças com mais “pavulagem”, afirma, tem tudo a ver com a identidade de suas biojoias. “Às vezes eu até quero fazer um coisa mais minimalista, mas não sai. Então tem que ser pavulagem mesmo!”, brinca.

Durante a pesquisa em torno da cultura paraense, entraram ainda inspirações relacionadas à vida urbana e ribeirinha, a arquitetura local e seus contrastes. Camila Amarall conta que criou joias inspiradas na palavra “espia”, para ela, muito significativa. “Até porque quem cria, quem produz joia, trabalha muito com a visão”, diz ela. Por isso também o formato levado às peças. “A joia sempre precisa ser olhada e nada melhor que uma forma de olho, por onde passa o nosso filtro, as nossas inspirações, a beleza de tudo, junto com todas essas técnicas que a gente usa aqui, puxando um olhar mais contemporâneo”, antecipa.

Por este caminho seguem outras coleções individuais que ajudaram a compor a “Paraensismo”. Participaram desta construção coletiva 25 empreendedores criativos. Entre eles, profissionais do ramo da joalheria: Aída Marion, Amorimendes, Bruna Altmann, Celeste Heitmann, Danatureza, HS Criações, Ivam Silva, Ivete Negrão, José Leuan, Rayan Andersen, Robson Reis, Rosa Castro, Rosaurea Simões, Silabrasila. Do setor de produtos de moda estão Brenda Lopes, Graça Arruda, Ivam Silva, Ivete Negrão, Jose Leuan, Joseli Limões, Nilma Arraes, Renata Gonçalves e Vanuza Barbosa. E também os ourives Ednaldo Pereira, Emerson Bezerra e Joelson Leão.

PROGRAMAÇÃO

Após o lançamento com desfile, será inaugurada uma exposição comercial com os produtos, que ficará a disposição do público até 10 de setembro. No período da exposição será realizada uma série de atividades ligadas ao universo da “Coleção de Joias e Produtos de Moda 2017/2018 – Paraensismo”, voltada a diferentes públicos, como visitas monitoradas e palestras abertas. Entre elas, a palestra “Design de Joias e Moda e as Expressões Culturais de um Povo: A Língua, Visando a Promoção Cultural e Geração de Conhecimento Sobre a Moda do Território da Amazônia Paraense”, que ocorre dia 29, às 14h, no auditório do São José Liberto.

Aberto ao público

Lançamento da Coleção “Paraensismo”

Quando: Hoje, às 19h

Exposição: Até 10 de setembro

Onde: Espaço São José Liberto (Praça Amazonas, s/n – Jurunas)

Quanto: Gratuito

Programação completa

Informações: (91) 3344-3500 e 3344-3509

(Lais azevedo/Diário do Pará)