Bailarinos chegam a Belém para performances em espaços públicos

Corpos pendurados em tecidos, movimentos leves, o despertar como a saída de um casulo. Espécie de crítica à nossa relação com o tempo, o Núcleo Artístico Maya-Lila, de São Paulo, apresenta amanhã, 11h e 15h, na Praça da República, e quinta-feira, 28, às 16h30, na Estação das Docas, em Belém, a performance “Gotas”. As sessões são interativas e os artistas e bailarinos José Guilherme Bergamasco, Marília Coelho e Melina Scialom convidam o público a refletir.

Uma criação de Danielle Laetano e Marília Coelho, o espetáculo estreou em 2012 e já passou por São Paulo, Bahia e Portugal. A performance instiga os transeuntes à pausa, ao descanso do olhar, para uma observação mais sensível do espaço onde estão, para que se conectem aos movimentos ao redor. O Núcleo, que se considera um organismo artístico vivo, criado em 2005, explora as múltiplas possibilidades e o cruzamento de linguagens artísticas a partir do pensamento da cultura da paz e do entendimento da arte como a própria vida.

“Além da dança, também temos formação em acrobacia aérea. A nossa intenção foi buscar outras formas de aliar o aparelho acrobático ao universo sensível e poético da dança. É uma apresentação de longa duração, tem 90 minutos, e como vamos para espaços públicos, alternativos, existem muitas possibilidades de interação. Tem quem passe e olhe; tem quem pare para ficar apreciando e comenta; tem quem vê tudo, com reações positivas e negativas. Tudo acontece”, diz Melina Scialom.

À medida que os bailarinos vão se mexendo, água escorre de cada integrante. A bailarina acredita que seja uma forma de potencializar o movimento do corpo. “Para os que assistem, remete à essa interpretação de símbolos e signos, uma espécie de útero, semente, seiva, gotas que curam. Ficamos em posição de feto, caem essas gotas e que pingam na gente e depois no chão. É como se fosse seiva, uma água roxa”, adianta.

Ao longo dos cinco anos de apresentação, o espetáculo “Gotas”, assim como outros trabalhos do grupo, foi sendo reelaborado, a partir da experiência de cada integrante e de cada mostra em cidades e eventos distintos. Por isso, os artistas consideram que a performance não é algo acabado e se transmuta junto com a própria dinâmica da vida do Núcleo.

“Como usamos espaços alternativos e com diferentes possibilidades de público, isso faz com que cada experiência nos traga novas ideias de trabalho sobre o que realmente funciona, o que pode ser substituído, se é melhor fazer de um jeito específico... Aos poucos, vamos amadurecendo, então, as obras não ficam paradas no tempo”, explica.

De Belém, o grupo segue para Macapá e já passou também por Rio Branco e Manaus nessa turnê pelo Norte do país resultado do prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna - Circulação, do Ministério da Cultura do Brasil, em 2016. “Levar as gotas para a região é ter a chance de levar a poesia do movimento produzida no Sudeste para se misturar ao Norte Amazônico do Brasil, onde a natureza nativa do país ainda revela sua potência. Para nós é um privilégio poder inserir nossa arte e se misturar ao público local, que tem a chance de trazer seu próprio imaginário para dentro da obra”, convida.

(Dominik Giusti/Diário do Pará)