Caderno virtual do Sesc Boulevard reúne críticas e artigos sobre linguagem fotográfica

Espaços vazios, sombras, borrados, meia-luz, corpos fora de foco. O ensaio da fotógrafa Irene Almeida, publicado no “Caderno de Pensamento: Ensaios e Críticas”, lançado pelo Sesc Boulevard e já disponível no site da instituição, tem a série da artista como despontar principal para os artigos da publicação, que busca refletir sobre a linguagem fotográfica não só a partir da visão da fotografia, mas também suas intersecções com outras linguagens.

“A série vem se constituindo de muito tempo, não é algo fechado em um único período, são vários períodos e tem no meio essa questão do silêncio e da saudade, uma espécie de presente não presente. É de estar junto com essas pessoas, mas parecer que não estou. Eu faço as fotografias delas e, no momento em que faço, elas nem enxergam. É como como se eu não fizesse parte do momento. A saudade foi algo meio imperceptível, mas percebida quando fui convidada a reunir o material”, explica Irene Almeida.

A idealizadora do e-book, Paula Sampaio, coordenadora do Núcleo de Fotografia do Sesc, diz que a ideia da publicação é fomentar o pensamento crítico e documentar o sentido da produção imagética contemporânea, como um registro para estudos e pesquisas e uma marca do tempo de agora. O livro traz, além das imagens de Irene, textos de Juan Guimarães, Felipe Pamplona, Georgia Quintas, Diógenes Moura e Erinaldo Cirino.

“Tem sentido documental e é importante produzir esses documentos que vão contar a história do nosso tempo. Temos materializado esse tipo de publicação que pode ser acessada em qualquer momento. Depois vai ser transformado em livro impresso, como o restante da coleção - já temos dois lançados”, explica Paula Sampaio.

Mesmo tendo como eixo básico a fotografia, os autores convidados têm liberdade para construir seus textos, articulados a partir da imagem, seja ela dada ou não. “O Diógenes Moura, por exemplo, é um escritor muito ligado à fotografia, e tem um poema que é altamente fotográfico. O mais importante é a valorização do pensamento crítico, reunir textos de pensadores contemporâneos, e isso é possível a partir da parceria com equipe de design e cinema”, detalha Paula.

(Foto: Irene Almeida)

(Foto: Irene Almeida)

(Foto: Irene Almeida)

Cinema de arquivo é um dos temas

Para pensar do ponto de vista do uso dos dispositivos para captação de imagens, Felipe Pamplona apresenta o artigo “Rasgos na Superfície e Auto-mise-en-scène: Foundfootage no Documentário Brasileiro Contemporâneo”, com a análise dos ensaios audiovisuais “Santos Dumont: Pré-Cineasta?”, e “Pacific”, de Marcelo Pedrosa, que utilizam a técnica do foundfootage - imagens retirada de arquivos que se traduzem em vídeos documentais e experimentais. Este é um dos textos presentes no e-book.

“Esse artigo é um desdobramento bem curto da pesquisa que faço desde a época do mestrado, sobre o foundfootage, que são filmes feitos com trechos de filmes encontrados em arquivos. Em ‘Pacific’, por exemplo, são imagens não de cinematecas ou de instituições públicas, mas de pessoas. O autor foi até um local de onde sai um cruzeiro para Fernando de Noronha e pediu para os turistas o que eles tinha gravado. Com isso, o cinema de arquivo é gestado e pensado na pós-produção, pois se apropria de imagem concebida para outra função”, explica o pesquisador.

(Domink Giusti/Diário do Pará)