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Pesquisadora mostra em livro a cultura marajoara

Caminhando por Belém há alguns anos, era fácil encontrar um telefone público com referências a símbolos e a cerâmicas marajoaras. Nas barraquinhas de artesanato, são comuns camisas com os mesmos desenhos, as “gregas” marajoaras. Mas por que, em uma região

Caminhando por Belém há alguns anos, era fácil encontrar um telefone público com referências a símbolos e a cerâmicas marajoaras. Nas barraquinhas de artesanato, são comuns camisas com os mesmos desenhos, as “gregas” marajoaras. Mas por que, em uma região com centenas de etnias indígenas, é a marajoara que parece tão evidente? A pesquisadora doutora Anna Maria Linhares foi em busca dessa resposta e deparou-se com o momento em que o país passava pela construção de uma identidade nacional, no século 19.

Nesse momento, como se vivia em um país de índios, se escolheu o simbolismo indígena. Mas não poderia ser qualquer um. “Houve estudos que deram ar de civilidade para os Marajoara. Compararam desenhos deles com os de grandes civilizações, como Grécia e Roma”, explica Anna. E foi essa necessidade de criar uma imagem “civilizada” dos índios marajoara pela política nacional que inspirou a pesquisadora a nomear seu livro, lançado este mês, de “Um Grego Agora Nu: Índios Marajoara e Identidade Nacional Brasileira”.

Após criar esta “civilidade”, a cultura e simbolismo marajoara começaram a se alastrar através de vários setores. Um dos mais importantes, aponta Anna, foi o da arte. Ali, um nome se destaca: Teodoro Braga (1872-1953), artista paraense que se dedicou à pesquisa de temas da história e cultura regional, em particular a marajoara. “Ele se aproveitou da flora brasileira e do simbolismo marajoara em sua pintura, assim como utilizava os grafismos em decoração de objetos, arquitetura. E isso foi se expandindo. Vários artistas começaram a também se inspirar nele em sua produção”, aponta a pesquisadora.

SEM VOZ

A pergunta que fica é como os índios reagiriam à tal apropriação de sua cultura como instrumento para a criação de uma identidade nacional. E eis mais um motivo para escolha dos simbolismos marajoaras e não de outras etnias. “Esses índios desapareceram, segundo estudos arqueológicos, inclusive antes da chegada dos europeus. Esse foi também um motivo fundamental para se apropriar. Ele já não existiam, assim era possível se apropriar de sua cultura da maneira que bem se quisesse”, explica Anna.

O resultado disto é que hoje ainda existem resquícios dessa política nacionalista em diversas regiões e mesmo fora do país. A paraense conta que ao longo dos últimos três anos em que pesquisou para seu doutorado – o que resultou no livro “Um Grego Agora Nu…” – viajou a lugares como o Rio de Janeiro, onde existem ainda muitas casas com grafismo marajoara. “Procurei anúncios de vendas de casas em jornais do início do século 20 e cheguei a algumas, geralmente localizadas em bairros nobres, como uma casa que encontrei na avenida Paysandu (zona Sul do Rio), repleta de motivos marajoaras”.

Em Florianópolis, Anna visitou o museu particular de um colecionador. Em São Paulo, o Retiro Marajoara, como é chamada a casa onde viveu Teodoro Braga. “Hoje são outras pessoas que moram lá e ela ainda é chamada por esse nome, que ele mesmo designou por ser completamente decorada assim, com grades, pinturas e foi parte do ateliê dele”, conta a paraense.

E entre suas visitas, uma situação alarmante em Barcelona: “Fui em busca de uma coleção no museu Barbier-Muller, que pertence a um colecionador particular. Não consegui conhecer porque foi desfeita, e agora a coleção de arte marajoara que era do museu está toda na internet à venda”, alerta.Ainda de acordo com a pesquisadora, “a cerâmica arqueológica é uma das mais vendidas no que chamamos de mercado negro. Só perde para a arte sacra. Normalmente, se encontra à venda com facilidade, pois, mesmo que seja ilegal a Interpol não consegue monitorar”. Em seu livro, a paraense mostrar a dimensão que tomou essa apropriação da arqueológica da cultura marajoara, que acabou indo parar não só na decoração de casas e móveis, “Encontramos talher marajoara, perfume marajoara, e objetos de decoração”, exemplifica.

(Laís Azevedo/Diário do Pará)

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