Fotógrafo Alberto Bitar reúne série sobre perda

O fotógrafo Alberto Bitar é daqueles que confundem a gente quando nos encontramos diante do velho questionamento se a vida imita a arte ou a arte imita a vida. Tanto faz. Ele se funde com suas imagens e vídeos e ali transparece a sua timidez. De poucas palavras, prefere a potência das imagens para tratar de sua subjetividade – que, aliás, foi tomando conta da própria carreira, já que deixou de atuar como administrador de empresas para ser fotógrafo e criar obras com recursos tecnológicos imagéticos. Um retrospecto dessa trajetória de vida e obra pode ser conferido na exposição “Sobre o Vazio”, que abre hoje, às 18h30, no Espaço Cultural Banco da Amazônia, em Belém. A entrada é gratuita.

Estarão expostas pela primeira vez as séries “Qualquer Vazio”, “Todo o Vazio”, “Completude”, “Breve Vazio” e mais uma sem título, realizadas nos últimos seis anos, tendo como a perda o mote instigador de sua produção. O pontapé veio com o vídeo “Sobre Distâncias e Incômodos e Alguma Tristeza”, realizado em 2009, quando Alberto saiu do apartamento em que morava com os pais desde os 14 anos de idade e passou a registrar o ambiente e os detalhes da sala, dos quartos, objetos de família, cenas de um lar sem mais ninguém - e a trilha sonora ao fundo com os acordes de um piano, feita por Leo Bitar. Soa melancólico e talvez dê o tom da partida.

Contemplada com o Prêmio Banco da Amazônia de Artes Visuais 2017, a nova mostra revela algo que o fotógrafo ainda não sabe ao certo se acabou ou se ainda se transformará em outros projetos. Mas olhar para a sua produção reunida desta forma foi surpreendente. “Dá uma certa tristeza ver um trabalho todo pronto, como um sentimento que acabou e agora tem que fazer outra coisa. Na verdade, não sei se é bem isso, é meio que o encerramento deste trabalho, mas nem sei se isso se encerra um dia, ou se modifica. Não tenho isso muito definido. Gostei muito de ter visto tudo reunido, já que fui mostrando por partes e nunca tinha tido a ideia de apresentá-lo em seu todo”, comenta o artista, que tem 25 anos de carreira e é editor de fotografia do DIÁRIO.

Partes da mostra já foram apresentadas na Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 2012, e em outras mostras no Rio Grande do Sul, em Goiânia, Tiradentes, Rio de Janeiro, e na Feira Internacional Art Lima, no Peru, em 2014. São fotografias, vídeos e instalações fotográficas. “Qualquer Vazio” e “Todo o Vazio” são vídeos feitos a partir de fotos, realizados por meio do Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, da Fundação Nacional de Artes (Funarte). Já “Completude”, o trabalho sem título e “Breve Vazio” são fotografias. São todos os vazios de Alberto.

“Tudo começou com ter que deixar o lugar em que eu vivia. E percebo que, na verdade, foi o medo de perder as referências com a mudança, medo de perder a memória. Tudo tem a ver com isso, sobre as distâncias, sobre o incompleto, que nunca vai ser substituído, o vazio que vai permanecer, a ausência dos meus pais, não tem como ser completo de novo. Também fui passando por hotéis e fotografando os quartos após as saídas dos hóspedes. É um espaço interessante de alguma forma, são vazios e saudades que existem”, diz.

PRESTIGIE

Exposição “Sobre o Vazio”, de Alberto Bitar

Abertura: Hoje, 18h30

Visitação: De 22 de fevereiro a 7 de abril, de segunda a sexta, das 9h às 17h

Onde: Espaço Cultural do Banco da Amazônia (Avenida Presidente Vargas, 800)

(Dominik Giusti/Diário do Pará)