Encontro discute desenvolvimento de ribeirinhos

De que forma o design pode funcionar como uma chave para o desenvolvimento de processos que busquem soluções para problemas do dia a dia? Pensando nessa questão, o Encontro Internacional para o Desenvolvimento Social – ou International Development Design Summits (IDDS) – foi criado para reunir uma equipe multidisciplinar com o objetivo de identificar e criar soluções a partir de tecnologias de baixo custo, de forma coletiva. O encontro, que tem apoio do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), será realizado de hoje até o dia 17, na comunidade de Boa Vista, município de Acará, no Nordeste do Estado.

De acordo com Diego Dalmaso, designer e organizador local do IDDS Amazon, o encontro serve para pensar no design centrado no ser humano, conceito voltado a entender maneiras de tornar as metodologias da área com foco na inovação e no indivíduo. É a segunda vez que ocorre no Brasil e também já foi realizado na Índia, no Paquistão e em países africanos. Desta vez, com a realização no Pará, os profissionais junto à comunidade, com cerca de 200 pessoas, buscam pensar soluções de subsistência. Serão realizadas palestras e workshops a fim de viabilizar as propostas.

“A ideia é fazer uma imersão na comunidade, que produz priprioca, pataqueira, mas tem uma série de contradições. Recentemente, eles tiveram de produzir muito, mas não tiveram como escoar totalmente os produtos, que são vendidos para uma grande empresa. Então, de que forma esse modelo de economia pode ser repensado? Eles criam, por exemplo, galinha caipira e vendem porque é mais caro, mas comem o frango que é vendido no supermercado, que é menos saudável”, comenta o organizador local.

SABERES COMPARTILHADOS GERAM SOLUÇÕES

Ainda não se sabe o que será feito no Acará. O primeiro passo é o diálogo e compartilhamento de saberes com quem mora no local e engenheiros, antropólogos, designers e outros profissionais, com conhecimento técnico e empírico, que buscam elaborar conjuntamente projetos viáveis de serem executados e com potencial de serem mantidos pelos moradores. Diego dá como exemplo uma experiência que ocorreu no IDDS Rethink Relief, que aconteceu em Uganda, em 2014.

“Existe um campo de refugiados de guerra, em que as pessoas viviam isoladas e não tinham como sair para pegar lenha para fazer fogo e comida. Então, eles queimavam roupa, plástico. As mulheres não podiam sair, pois tinham medo de ser estupradas ou mesmo ser pegas para serem escravas sexuais. Os homens tinham medo de morrer ou ser capturados para trabalharem como soldados de movimentos radicais. O que se criou junto à comunidade? Um forno de barro que usa pouca lenha e armazena calor. Na metade do cozimento de um alimento, eles podem apagar o fogo que o cozimento continua”, exemplifica.

O evento na empreitada na Amazônia pretende reunir 15 participantes internacionais e 25 brasileiros, que durante as duas semanas vão conhecer o local e as práticas tradicionais da comunidade, como a agricultura, o processo extrativista e os problemas de abastecimento de água. O desafio é pensar no escoamento de produtos da natureza, aproveitamento de restos de caroços de açaí para outros usos, tecnologia de distribuição de água, só para citar algumas possibilidades do trabalho que será pensando e desenvolvido.

“É um evento para pensar tecnologia simples, a partir da criação de protótipos, e que poderá ser repassado para outras comunidades, com uma solução que sirva também para outros locais. É a própria comunidade que fará essa etapa. Por isso, é importante que ela esteja envolvida para ter conhecimento do processo. É muito diferente de chegar com uma solução pronta. O mais importante é que eles se identifiquem e pensem também”, explica Dalmaso.

NO PARÁ

IDDS Amazon 2016
Quando: De hoje ao dia 17
Onde: Boa Vista do Acará
Saiba mais: www.idin.org, www.iddsamazon.org, Facebook.com/iddsbrasil e [email protected]

(Dominik Giusti/Diário do Pará)