Alegria e luto em mais um cortejo do Pavulagem

Mesmo antes das 9h, horário marcado para o início da concentração do arrastão, famílias inteiras e grupos de amigos já aguardavam pelo início do cortejo, na Escadinha da Estação das Docas. Celebrando os 30 anos de existência do movimento, o terceiro e penúltimo cortejo junino do Arraial do Pavulagem teve um sentido diferente: além de levar animação, foi marcado por muitas homenagens.

Com fitas pretas amarradas nos braços, os integrantes da banda do Arraial e do Batalhão da Estrela lembraram a morte de Sérgio Oliveira da Silva Junior, 27 anos. Conhecido entre os amigos como Serginho, ele foi vítima de uma tentativa de assalto ocorrida na noite da última quinta-feira (23). O jovem comerciante era casado e fazia parte do Batalhão há 3 anos, onde transmitia toda a sua alegria como vaqueiro e perna de pau do grupo.

Serginho recebeu muitas homenagens ao longo do cortejo, que saiu da Estação e seguiu pela avenida Presidente Vargas até à Praça da República. Pai do jovem, o aposentado Sérgio Oliveira, 61 anos, recebeu a notícia no Rio de Janeiro, onde reside. Ele veio para Belém e participou do cortejo que homenageou seu filho, ao lado da mãe e outros familiares.

O aposentado agradeceu aos amigos de Serginho por participar daquele momento.“Se não houvesse essa homenagem, com certeza estaria triste dentro de casa, porque a dor da perda só sabe quem passa”, disse Sérgio, acrescentando que ficou maravilhado com a energia boa do evento. Baixista da banda do Arraial do Pavulagem há 20 anos, o músico Rubens Neves, 42 anos, lamentou a precoce partida do amigo. E ressaltou que o cortejo vem falando de alegria, cultura e crenças. “Mesmo consternados, temos de levar o arraial para a rua. O sentimento é de medo, tristeza e angústia de não podermos mais sair de casa”, pontua.

Neves lembrou que os movimentos ligados à cultura popular, a exemplo das festas juninas, estão se fechando cada vez mais diante da violência que invade as ruas. No último momento do cortejo, em frente ao Theatro da Paz, o jovem recebeu mais uma homenagem saudosa de seus colegas.

BRINCANTES

E a manhã foi embalada por xote, carimbó, toadas de boi e, claro, quadrilhas juninas. Integrantes do Batalhão da Estrela carregavam os estandartes dos santos celebrados na Quadra junina – Santo Antônio, São João e São Pedro. Ornamentando as ruas de Belém com muitas cores, a multidão mais uma vez acompanhou a passagem do boi azulado, um dos símbolos do arrastão.

Participando do cortejo pela primeira vez, as donas de casa Marta Pimentel, 57 anos, natural de João Pessoa, e Maria Joana de Jesus, 64 anos, deixaram os maridos e filhos tomando conta das casas para aproveitar o domingo e a diversão no arrastão. Ambas moram há mais de 20 anos em Belém. “Convidei a Maria e viemos de chapéu e tudo. Vamos dançar muito e relaxar o corpo”, brinca Marta.

Integrante do Batalhão da Estrela há 4 anos, o analista de TI Angstron Cunha, 39 anos, se diz apaixonado pela cultura regional. O amapaense, que mora em Belém há 27 anos, se considera paraense de coração. “Gosto muito dessa cultura, carimbó, o boi. Tudo isso me encanta e incentiva a nossa cultura”, ressalta, acompanhado dos amigos.

A festa encerrou no palco montado na Praça da República, onde a banda do Arraial tocou e animou os brincantes. Seguindo a um antigo costume da família, a contadora Jecelma Silva, 38 anos, participou de mais um cortejo, acompanhada dos pais Maria Silva, 72, e Jesus Silva, 75. Animado, o trio garantiu um espaço próximo do palco. “É um festivo que nós gostamos muito. Todos os anos nós participamos”, diz a contadora.

(Pryscila Soares/Diário do Pará)