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Cheio de falhas, desfile da X9 decepciona

Não precisou mais que dez minutos para saber que a homenagem da X9 a Belém do Pará no carnaval de São Paulo seria um verdadeiro desastre. A alegoria em forma de oca da comissão de frente, que teimava em não ficar no eixo, já era o prenúncio de que dali em

Não precisou mais que dez minutos para saber que a homenagem da X9 a Belém do Pará no carnaval de São Paulo seria um verdadeiro desastre. A alegoria em forma de oca da comissão de frente, que teimava em não ficar no eixo, já era o prenúncio de que dali em diante o que viria era um desfile de referências fora do prumo, com um punhado de falta de noção e muitos erros primários, tecnicamente falando.

A tentativa de membros da harmonia da escola paulistana em colocar a oca para andar em linha reta, no meio da avenida, já acabou com qualquer expectativa de quem estava assistindo àquilo. Aliás, mesmo se estivesse no eixo correto, começar o desfile com índios e ocas já frustrou qualquer paraense de boa vontade. A intenção de homenagear a cidade tendo o açaí como elo foi um recurso estético que poderia dar sentido a tudo, mas que já começou indo no senso comum que muitos têm de que aqui ainda somos uma terra de índios - nada contra -, sempre soando isso de forma pejorativa.

Talvez preocupada com as falhas, a Escola deslizou e errou novamente - desta vez na ortografia - e postou em sua página no facebook uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré, pedindo bençãos. Imagem: Reprodução.

Sem contar que a ideia de usar a comissão de frente para um grande teatro contando a lenda do açaí, com a simulação da morte de um bebê, foi de extremo mau gosto. “Nossa meta era levar o drama para a avenida e a gente conseguiu, porque levamos e fomos aplaudidos em cena aberta”, disse a coreógrafa Yáskara Manzini, doutora em artes cênicas. De fato, a cena pode ter sido nota dez no quesito interpretação, mas ela se esqueceu de que aquele palco é de luzes, cores e alegria, portanto não cabia algo daquele tipo. Beirou o mau gosto.

A comissão de frente foi o prenúncio de momentos piores. Houve carro alegórico que entrou sem pedaços, desacoplado para que o veículo pudesse entrar na avenida (uma pergunta básica: todo carnavalesco não sabe as medidas do sambódromo?) e, em outro carro, um eixo quebrado fez a alegoria tombar para um lado e derrubou lá de cima um destaque, do qual ninguém teve notícia durante a transmissão. Resultado: outros destaques tirados às pressas pelo risco, outros se retirando por medo mesmo, outros tantos desfilando sentados. “Estão tentando achar brincantes do chão que queiram ir de destaques para o carro não ir com a lateral vazia e assim perder pontos, mas ninguém quer. Isso aqui está uma confusão só”, disse a repórter. Mais um sinal de que nada daria certo naquela noite.



Voltando aos índios, boa parte do desfile se ateve a eles. A eles e aos portugueses, aos corsários, a Francisco Caldeira Castelo Branco, e passou “rapidola”, como se diz por essas bandas, à Cabanagem... Até Chico Pinheiro, jornalista respeitável que por aqui já esteve gravando um programa o tempo suficiente para saber como os paraenses consomem açaí, começar a falar sobre aquelas misturas inaceitáveis com xarope de guaraná, banana, granola. Ah, normal, é assim que se consome o fruto lá fora, dirão os paraenses menos radicais, mas o mínimo que se esperava era que num desfile sobre Belém, nossa cultura fosse o comentário, e não a adaptação dela feita pelo resto do país. Mais uma vez, é como se não fôssemos enxergados pelo que somos, mas pelo que pensam que a gente é.

Até que Ailton Graça, ator que é, e sem a mínima obrigação de ser fiel às informações corretas, tratou de tentar corrigir que comemos açaí com peixe, com camarão, farinha de tapioca, farinha d’água... Até açaí com sal saiu na lista, mas ok, já estavam redimidos só por ele ter dito: “Lá em Belém os paraenses odeiam açaí como a gente toma aqui”. Valeu, te devemos essa!

>> X-9 encerra desfile com problemas

Confesso que esperava que Celso Viáfora fosse ser o nosso verdadeiro porta-voz na transmissão. Ele, que está sempre por aqui e se declarou no ar - “Belém é minha segunda cidade, a cidade do meu afeto” -, para em seguida fazer um belo merchandising do seu parceirão quase irmão Nilson Chaves e declamar os versos de “Sabor Açaí”, este sim, gostem ou não, nosso hino maior dedicado ao fruto. Viáfora, talvez, nessa homenagem tenha tentado dar uma resposta ao samba-enredo cujo título era mais uma referência sem sentido, dessa vez à música de Djavan (!!!): “Açaí Guardiã”. Mas fora isso, Celso foi discreto. Falou do Bar do Parque como “o bar que nunca fecha” (alguém o atualize que agora fecha, por favor), da Estação das Docas e da culinária. “Em Belém tem o jambu, aquela maravilha que treme a boca”, emendou Chico Pinheiro, tentando se safar ainda da besteira dita sobre o açaí.

DESFILE SEM ARTISTAS

De repente, o açaí sai de cena e entra um bloco em homenagem à nossa música. Carimbó, tecnobrega... Eis que vem o carro do Ver-o-Peso e, entre uma torre e outra de nosso mercado-símbolo, um destaque vestido de preto. Deve ser uma licença poético-alegórica para mostrar os urubus que fazem parte da paisagem, penso eu. Mas não. Nos créditos, o nome da fantasia: “O Barbeiro”. Mas é lógico, como não pensei nisso antes? Como, num enredo sobre açaí, não colocar em destaque, com plumas e paetês, no Ver-o-Peso, o besouro que nos causa medo e leva à morte? Mais uma dose de falta de noção - infelizmente, não seria a última.

Uma bandeira enorme do Pará foi aberta, carregada por pessoas com o tradicional chapéu do Pavulagem (sem que se explicasse ao público mais esta nossa manifestação popular) e no último carro, homenagem ao Círio, veio com uma Nossa Senhora estilizada e a corda ao chão. Sim, nenhuma mãozinha na corda, não se sabe se por determinação do carnavalesco ou por total esquecimento dos brincantes dessa ala.

Celso Viáfora tenta desviar o foco e começa a citar artistas daqui renomados lá fora que fazem parte de seu circuito MPP de amizades. Cita Billy Branco, Jane Duboc, Sebastião Tapajós, Fafá de Belém, e rapidamente lembramos que nenhum deles está ali no desfile. Nem eles, nem nenhum de nossos artistas ou personalidades influentes (pelo menos não exibidos pela transmissão da TV).

Chico Pinheiro começa então a cantar “Peguei um Ita no Norte”, música que nos lembra de um tempo em que se achava que era preciso ir para o Sul e Sudeste do país para ser alguém na vida. E o desfile foi todo assim: um passeio superficial e sem sentido pela nossa cultura, com um quê de olhar de colonizador sobre o colonizado. Mais do mesmo para quem acha que Belém é apenas índio, jacarés atravessando a rua, grandes ocas onde moramos, música exótica e o Ver-o-Peso como cartão-postal.



Um pouquinho da emoção que foi desfilar com minha bateria @pulsacaonotamil ao lado da minha bonequinha @jenniferdduarte_ . Coração bate forte @x9paulistana #acai #belem400anos #belemdopara #Carnaval2016 #teamgracyanne #bumbumnanuca

Publicado por Gracyanne Barbosa em Domingo, 7 de fevereiro de 2016

No fim do desfile, os apresentadores revelam as hashtags mais comentadas durante a passagem da X-9: Gracyanne Barbosa (que foi rainha de bateria), açaí e problemas. Nada mais significativo.

Sem dúvida, quem merece nota dez é a harmonia da escola. A equipe puxou carro à unha, contornou os percalços e conseguiu fechar a apresentação dentro do prazo. Fez milagre. Talvez na contagem de pontos os problemas nem sejam problemas. Como quase tudo ocorreu no início, no chamado primeiro setor, e a pior nota é de descarte, pode ser que os juízes espalhados ao longo do percurso sejam mais benevolentes. Mas o carnavalesco André Machado deveria ter ido mais a fundo no tema. Pela cara de desânimo com que ele deu entrevista no fim do desfile, tem consciência disso. A X-9 merecia mais, muito mais. E Belém, como presente pelos seus 400 anos, também.

(Esperança Bessa/Diário do Pará)

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