HQs de Mauricio de Souza que criaram leitores

Mauricio iniciou sua carreira como ilustrador na região de Mogi das Cruzes (SP) e aos 19 anos mudou-se para a capital, onde trabalhou no jornal “Folha da Manhã” (atual Folha de São Paulo) durante cinco anos, escrevendo reportagens policiais. Quem associa suas criações imediatamente à Mônica, fique sabendo que seu primeiro personagem foi o cãozinho Bidu, criado em 1959. Uma década depois, lançou a revista “Mônica”.

As revistinhas, almanaques e tantas outras publicações de Mauricio de Sousa não fizeram parte apenas de uma ou duas gerações de leitores mirins. Ainda assim, sempre houve aquela identificação entre o leitor e suas histórias e personagens. Todas as crianças estavam ali representadas, na comilona Magali com seus fiozinhos de cabelo por traz da orelha e uma melancia nas mãos; na Mônica mandona, baixinha e dentuça; no Cebolinha e suas trocas de “r” por “l”, além de seus muitos planos infalíveis; no Cascão e seu medo de água; e até na Dorinha, uma menina com deficiência visual, e no Luca, um garoto cadeirante.

“Amo os personagens da Turma da Mônica porque foi com eles que consegui alfabetizar meu filho Pedro, diagnosticado com Síndrome de Asperger. Até então, aos quatro anos, mais ou menos, ele se recusava a pegar lápis, caneta e escrever qualquer coisa. Já tinha o hábito de ler para ele desde bebê, mas foi aí que peguei os gibis do Chico Bento e comecei a lê-los para ele. Parece que uma porta se abriu. A partir desse momento, ele se interessou pela leitura. E pensa que ele falava errado como o Chico Bento? De jeito algum, ele sempre soube discernir a pronúncia certa. Hoje o Pedro tem 10 anos, fala e lê superbem, graças aos gibis, principalmente do Chico Bento”, conta Bianca Luizato, 41 anos.

DE OLHO NO MUNDO

MaurIcio sempre pareceu atento ao mundo à sua volta. Criou personagens como Bloguinho, que fala a linguagem das redes sociais e mantém toda a turminha antenada com a realidade de seu leitores, feita de computadores e celulares. Continua a falar de preservação do meio ambiente, em defesa dos animais – também representados em vários personagens – e atualizando seus formatos, levando seus personagens para longa-metragem, aplicativos, jogos e até a série de animação “Mônica Toy”, criada especialmente para o Youtube.

“Acho que ele permaneceu e ganhou tanta importância justamente por perceber que tinha que se adaptar para o público, que um dia fui eu, e hoje são outras crianças. E assim nasceram trabalhos incríveis, como uma série que conta filmes clássicos, como ‘Star Wars’ e ‘Avatar’, mas com personagens dele. Sem contar que o Mauricio abriu um precedente incrível: logo no início das revistinhas, ele treinou uma pequena equipe para reproduzir seus traços, equipe que cresceu muito com sua empresa, e ele passou a dar crédito para o desenhista e roteirista de cada história”, destaca Fiore.

Hoje, as criações do desenhista chegam a cerca de 30 países, e continuam cativando diversas gerações, como a de Daniel e sua filhinha Malu, de dez anos, cuja dúvida os unem no tempo: afinal, Mauricio, por que a Mônica, o Cascão e a Magali não usam sapatinhos, somente o Cebolinha? “Eu que tenho mais de 40, quero saber isso desde os nove anos de idade, e a Malu tem a mesma curiosidade”.

Com a palavra, Mauricio.


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(Lais Azevedo/Diário do Pará)