plus

Edição do dia

Leia a edição completa grátis
Previsão do Tempo 27°
cotação atual R$


home
_

Exposição reúne fotografias feitas por escritor

“Belém eu desejo com dor, desejo como se deseja sexualmente, palavra. Não tenho medo de parecer anormal pra você, por isso que conto esta confissão esquisita, mas verdadeira, que faço de vida sexual e vida em Belém. Quero Belém como se quer um amor. É inc

“Belém eu desejo com dor, desejo como se deseja sexualmente, palavra. Não tenho medo de parecer anormal pra você, por isso que conto esta confissão esquisita, mas verdadeira, que faço de vida sexual e vida em Belém. Quero Belém como se quer um amor. É inconcebível o amor que Belém despertou em mim”. Em 1927, Mário de Andrade encantado com a Amazônia, escrevia uma carta para seu amigo Manuel Bandeira, quem chamava carinhosamente de Manu, contando com uma empolgação sincera e poética suas impressões de um lugar ainda desconhecido aos olhos de grandes metrópoles, quase invisível até.

Com uma câmera Kodak, uma caderneta e um olhar de menino curioso, Mário viajou pelo Norte do Brasil, em sua descrição era a “Viagem pelo Amazonas até o Peru, pelo Madeira até a Bolívia e pelo Marajó até dizer chega”. Foi nessa aventura etnográfica e poética, que o “Turista Aprendiz”, epiteto escolhido pelo próprio Mário, fotografou homens, mulheres, paisagens, arquitetura e cultura dos locais por onde ia passando. Hoje, às 18h, chega ao Museu de Arte de Belém (Mabe), a mostra “Mário de Andrade: Etnógrafo-Fotógrafo-Poeta”, que apresenta um recorte de 60 fotografias em preto e branco, feitas por Mário durante a viagem pelo Pará e pelo Peru, além de um vídeo com fragmentos de correspondências com pensadores brasileiros. A exposição fica aberta para visitação até o dia 27 de setembro, com entrada franca.

Na viagem, Mário de Andrade foi captando movimentos, trabalhadores no campo com a cana, o café e o gado, populações ribeirinhas transportando madeira e alimentos, os mercados, os indígenas e as lavadeiras. “As fotografias demonstram também o empenho do escritor em transmitir por meio de elementos plásticos aquilo que é retratado, fundindo a informação ao valor artístico, além de registrar cada imagem com títulos e legendas que as explicam ou esclarecem, aliando, dessa forma, a ação do turista-etnógrafo à do fotógrafo-poeta”, diz a curadora e pesquisadora Adrienne Firmo.

INFLUÊNCIAS DA POÉTICA AMAZÔNICA

A pesquisa etnográfica e artística de Mário de Andrade traz a visão do trabalho no interior do Brasil no início do século 20 e é fundamental para a formação dos estudos sobre cultura, inclusive a amazônica. “A cultura amazônica tem uma dimensão poética tão forte decorrente do seu imaginário que isso se reflete nos textos de escritores e pesquisadores que visitaram e visitam a Amazônia. A obra de Mário quando penetra por aqui, embora em prosa, se poetiza. Ele se deixou impregnar por essa poética do imaginário amazônico”, afirma o poeta e pesquisador João de Jesus Paes Loureiro, cuja tese de doutorado “Cultura Amazônica: Uma Poética do Imaginário” cita a relação de Mário de Andrade com a região.

Segundo o pesquisador, mesmo após 70 anos de sua morte, a figura de Mário de Andrade foi e continua sendo importante e fundamental na conquista de uma expressão brasileira na literatura e na interpretação cultural, revelando de forma testemunhal aspectos da cultura amazônica. Além disso, ele destaca o entusiasmo do poeta em relação a uma valorização da visão mítica na cultura.

“O poema dele sobre o seringueiro, por exemplo, é muito importante, porque também é documental. Além de mostrar a emoção, o trabalho árduo do seringueiro, a maneira como ele escreve também documenta. Eu até diria que ele é um exemplo de poesia etnográfica, que está dentro da formação dele, do seu interesse pela antropologia”, afirma Paes Loureiro, destacando que a incursão de Mário de Andrade pela Amazônia condiz com os ideais modernistas em sua busca pelo Brasil profundo.

“No caso dele, viajar foi um modo de revelar essa cultura através de obras como o romance ‘Macunaíma,’ que é inspirado em um mito de Roraima, dos índios Makuxi. Os temas do trabalho e da viagem pelo Pará, como o poema ‘Acalanto do Seringueiro’, revela uma linguagem, um vocabulário, que nascia de uma própria realidade brasileira, uma realidade ainda distante das metrópoles naquela época”, explica Paes Loureiro.

(Diário do Pará)

VEM SEGUIR OS CANAIS DO DOL!

Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.

Quer receber mais notícias como essa?

Cadastre seu email e comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Conteúdo Relacionado

0 Comentário(s)

plus

Mais em _

Leia mais notícias de _. Clique aqui!

Últimas Notícias