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CINEMA

Curta “Shala”, de diretor paraense é concluído

Após sete anos, o curta-metragem “Shala”, do diretor paraense João Inácio, foi finalizado. Desde 2009 o projeto estava inconcluso, por uma série de motivações. A principal e a que desencadeou a espera ao longo desses anos foi o estouro do limite orçamentá

Após sete anos, o curta-metragem “Shala”, do diretor paraense João Inácio, foi finalizado. Desde 2009 o projeto estava inconcluso, por uma série de motivações. A principal e a que desencadeou a espera ao longo desses anos foi o estouro do limite orçamentário do vídeo, que ultrapassou o previsto por causa do pagamento de cachês extras e do aluguel de equipamentos que vieram de outras cidades.

Como se não bastasse o prejuízo financeiro, o diretor passou ainda por um período de profunda insatisfação com o resultado, foi morar nos Estados Unidos, enfrentou uma depressão. Pensou em desistir. Pensou até mesmo que já havia desistido, mas resolveu retomar o projeto, que foi finalizado no último dia 15 e apresentado para a equipe que participou das gravações.

Viabilizado por meio da Secretaria do Audiovisual (SAV), do Ministério da Cultura, Lei Semear (Fundação Cultural do Pará) e Leis Tó Teixeira e Guilherme Paraense (Fundação Cultural do Município de Belém) e Banco da Amazônia, o vídeo de 10 minutos apresenta a história de Pedro, um menino que espera ser adotado, mas que, por preconceitos, acaba ficando sem encontrar um lar. A temática surgiu a partir do relato da mãe de João Inácio, que trabalhou na Fundação da Criança e do Adolescente do Pará.

O ator que deu vida ao personagem principal, Tiago Assis, que à época tinha 8 anos, recorda o momento e diz que, mesmo com pouca idade, a participação no vídeo o fez pensar sobre adoção. “Eu não conhecia esse lado da adoção, pela pouca idade. Mas fui entendendo e só quem vive sabe o quão triste é a vida para quem tenta ser adotado e é rejeitado por motivo de doença ou preconceito, o que é frequente. São pessoas que têm a vida muito sofrida. E essa pouca experiência que tive me fez pensar demais sobre esse caso”, diz o ator, hoje com 15 anos.

(Foto: Divulgação)

Confira abaixo entrevista com o diretor João Inácio e saiba mais sobre o processo de produção do “Shala”.

Qual a previsão de lançamento? Em que fase está o curta?

O filme ficou pronto no dia 15 de junho, mas ainda não tem previsão de lançamento. Estamos esperando todo o processo burocrático do MinC e da Ancine ser finalizado, mas também o filme já começou a ser inscrito em festivais nacionais e internacionais. Estes festivais pedem ineditismo. Portanto, vamos colocá-lo primeiramente nestes eventos. O filme funciona muito melhor na sala de cinema, por isso vamos priorizar estas janelas de exibição.


Por que demorou tanto tempo para ser finalizado? O que houve ao longo desses anos?

O filme estourou todos os orçamentos, a ponto de eu me ver atolado em dívidas, inclusive ainda estou pagando as contas. Foi muito oneroso trabalhar com crianças, pois os gastos de set dobram, já que temos de custear os responsáveis também. Os equipamentos de filmagem, luz e maquinaria quase todos vieram de São Paulo e Brasília e alcançarmos uma fotografia mais expressiva. Isso tudo precisou de muita logística e altos custos. Depois das filmagens, só vinham as dívidas. Foi preciso eu parar e me restabelecer financeiramente e emocionalmente, pois o filme é um grande sonho meu, eu investi dinheiro, suor, lágrimas e por muito tempo estava totalmente insatisfeito com o resultado. Por um longo tempo, eu não acreditava mais que o filme funcionaria.

(Foto: Divulgação)


Qual a importância desse processo na sua carreira em cinema?

Atravessar todas essas dificuldades só me faz compreender hoje que é preciso enfrentar de frente o problema, buscar alternativas. Mas parar e repensar tudo o que está acontecendo para voltar me fez mais maduro e consciente. Hoje tenho um filme pronto com vida própria, que dialoga assuntos que precisam ser discutidos na sociedade. Exatamente como eu acredito que o cinema deve ser.

A sua ida para os Estados Unidos tem a ver com isso? O que você está desenvolvendo por lá?

Nos EUA, eu tentei participar de equipes de filmagens, mas tudo lá é muito fechado. Mesmo assim, conheci muita gente legal e meu namorado mostrou um lado pouco explorado por brasileiros lá, e isso me fez ter uma visão dos EUA muito diferente do que estamos acostumados. A ida foi um período sabático, lá estava decidido a não retomar o “Shala”. Eu precisava me encontrar mais do que entender a cultura daquele país, eu queria entender o que estava acontecendo comigo. E o inverno foi destruidor, entrei em depressão. Mas impressionantemente, como a natureza, veio a primavera e com as flores eu fui renascendo. Foi neste momento que o “Shala” deixou de ser um projeto abandonado. Mostrei para meu namorado e ele não aceitava o fato de eu não acreditar no filme. Ele não fala uma palavra em português e disse que o filme não precisava de legenda para ser entendido, pois a imagem se encarregava de contar uma bela história e isso não poderia ser deixado para trás. E, assim como as tulipas, que lentamente se abriam no jardim público, fui voltando a acreditar no filme. Passamos a mostrar a cópia de trabalho a amigos e dedicamos o verão a desenvolver estratégias para retomar a finalização do filme. Fiz muitos bicos para ganhar e guardar dinheiro e, com o tempo, desenhamos as etapas para finalizá-lo.

Como surgiu a ideia de fazer “Shala”?

Por muitos anos, minha mãe trabalhou na Fundação da Criança e do Adolescente do Pará e sempre chegava em casa com muitas histórias. Uma delas era de um garoto que não conseguia ser adotado, pois os possíveis pais sempre demonstravam ser muitos preconceituosos. Isso me cortava o coração, eu queria ajudar a transformar essa realidade de alguma forma. O cinema foi minha escolha.

Como o enredo foi pensado e desenvolvido?
Precisei adaptar a história real para um enredo que tocasse as pessoas e que o preconceito fosse materializado. Em uma conversa despretensiosa com Alexandre Sequeira [artista plástico], ele me contou a história do Roger Paes [ator e jornalista] em uma briga de infância para tirar a foto com uma boneca. A história caiu como uma luva para a minha história. Então, eu adaptei para um clima mais delicado e que realmente fizesse as pessoas saírem sutilmente incomodadas do cinema, mas com muita vontade de falar sobre o assunto. Eu acho que consegui.

(Dominik Giust / Diário do Pará)

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