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CINEMA

Público melhorou mais que a produção

“Há um público sedento por conhecer melhor o país. Está nas universidades, nos cineclubes e se mostra cansado do cinema só comercial. O documentário ganhou impulso nos últimos dez anos porque as pessoas exigiram. Não é à toa que hoje há facilidade em conv

“Há um público sedento por conhecer melhor o país. Está nas universidades, nos cineclubes e se mostra cansado do cinema só comercial. O documentário ganhou impulso nos últimos dez anos porque as pessoas exigiram. Não é à toa que hoje há facilidade em convocar manifestações.”

A avaliação é do cineasta Vladimir Carvalho, 80, homenageado deste ano do festival “É Tudo Verdade”. Paraibano, dirigiu obras como “O País de São Saruê” (1971) e “Conterrâneos Velhos de Guerra” (1991), exibidas na mostra. Para ele, “talvez o público tenha melhorado mais do que a qualidade do documentário brasileiro”, que é boa, mas não encontra muito espaço nos cinemas e na televisão.

Atuante no CPC (Centro Popular de Cultura), da UNE, antes do golpe de 1964, Carvalho identifica hoje uma rapaziada de documentaristas engajada em fazer cinema “com tesão, com libido e menos tutelada politicamente”.

Para um grupo de jovens assim, propôs recentemente a realização de um filme sobre a transposição do rio São Francisco. “Sugeri que filmassem sem posição antecipada, ouvindo todos os lados, mas deixando uma janela aberta para o ar entrar”, conta.

A ideia do documentário surgiu quando ele viajava pelo interior do Nordeste em direção a Sousa (PB), um dos cenários de “O País de São Saruê”.

Neste filme, ele expõe com ênfase as desigualdades entre trabalhadores da terra e proprietários de fazendas. O longa foi censurado pela ditadura: o olhar crítico do diretor não se encaixava com a visão rósea que o governo queria divulgar sobre a região.

Na literatura de cordel, São Saruê é um imaginário país de fartura. O filme, um retrato da pobreza, só foi liberado para exibição em 1979, quando a ditadura se encaminhava para o seu fim.

Premiado, entrou para a galeria dos clássicos. “Nasci numa espécie de país de São Saruê. Itabaiana (PB) é uma região com engenhos. Há leite e mel. Mas também o fel das injustiças sociais. Se não se é indiferente, isso te deixa marcas”, diz.

Sempre indo para lá, o cineasta elogia medidas governamentais para “salvar as pessoas da pobreza”. Mas, para ele, não houve mudança substantiva na região. “Noto que o campo está deserto. Tudo foi resumido ao agronegócio.”

Sem deixar as raízes nordestinas, Carvalho está há décadas em Brasília, onde rodou “Conterrâneos Velhos de Guerra”, filme que traz as contradições da construção da capital, denuncia massacre de operários, a especulação imobiliária e o processo de expulsão dos pobres da cidade. Num final dramático, a fita mostra uma explosão de fúria da população contra injustiças. “Aquilo beira o ficcional, mas aconteceu e foi bloqueado pela mídia. É um alerta”, opina. É também ideia para um próximo filme.

O diretor pensa fazer um documentário sobre a Esplanada dos Ministérios. Projetada para ser um grande jardim, nela acontecem protestos variados: “De passeata de tratores de ruralistas a manifestações de sem-terra”, lembra.

Carvalho conta que nunca obteve um financiamento que custeasse integralmente uma produção. Tira do salário de professor aposentado da UNB e de contribuições de amigos o dinheiro para seus projetos - o atual é sobre o artista plástico Cícero Dias (1907-2003).

Preocupado com história, transformou sua casa em Brasília em um memorial ao cinema, o Cinememória. Há mais de 50 anos fazendo filmes, diz ter uma ideia fixa: “Mudar o mundo”.

(Diário do Pará)

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