plus

Edição do dia

Leia a edição completa grátis
Previsão do Tempo 28°
cotação atual R$


home
GERSON NOGUEIRA

A Fifa e o efeito Chacrinha

Começou muito mal a experiência com a análise de vídeo em jogos de futebol. A Fifa teve a boa ideia de experimentar a novidade no Mundial de Clubes, que se iniciou anteontem. Mas, logo de cara, no jogo entre Kashima Antlers e Atlético Nacional, veio a lam

Começou muito mal a experiência com a análise de vídeo em jogos de futebol. A Fifa teve a boa ideia de experimentar a novidade no Mundial de Clubes, que se iniciou anteontem. Mas, logo de cara, no jogo entre Kashima Antlers e Atlético Nacional, veio a lambança.

O árbitro levou alguns preciosos minutos vendo e revendo as imagens do lance reclamado pelo Kashima de um suposto pênalti cometido pela zaga colombiana. A infração, duvidosa, se originou de um flagrante impedimento duplo.

O japonês Daigo estava pela direita do ataque em posição de impedimento passivo. Tentou voltar para sair do off-side e trombou com o zagueiro Mosquera, que corria em direção à bola cruzada. Em resumo, Daigo, impedido, cometeu outra infração e por isso não poderia ter sido marcada a falta no instante seguinte.

A penalidade aconteceu depois de uma ilegalidade, explicou didaticamente Arnaldo Cézar Coelho, em análise feita num programa do Sportv na tarde de ontem. Está certíssimo.

O que chama atenção é que, pelo menos nesse teste inicial, o recurso do vídeo serviu mais para confundir do que para esclarecer. É, por assim dizer, um efeito Chacrinha a invadir a praia do futebol. Todos sabem que o Velho Guerreiro costumava dizer que não veio para explicar e, sim, para confundir.

Depois de toda a polêmica decorrente da decisão equivocada do árbitro, que no primeiro momento (antes de ser alertado pelos analistas de vídeo através de comunicação por rádio) deixou o jogo seguir normalmente, a Fifa certamente vai sair com mil argumentos em defesa do sistema que tenta implantar. Aliás, tamanho interesse – em se tratando de tal entidade – já inspira temores outros.

Na verdade, seguindo o secular critério do olhômetro, o árbitro acertou em cheio. O lance realmente não configurou a falta máxima contra o Alético. Sob o peso da nova instrução, válida para o Mundial, o apitador foi obrigado a reconsiderar e acabou induzido ao erro pelo mecanismo criado para evitar erros. É puro Kafka.

Não só o árbitro caiu na esparrela. A discussão invadiu redes sociais, bares e esquinas do mundo. Há quem jure que houve o pênalti e que o sistema foi providencial. A maioria, porém, percebeu que a situação faltosa inicial do atacante do Kashima invalida completamente o que viria a ocorrer depois.

Portanto, além de confundir o árbitro, o sistema de monitoramento também instaurou a discórdia fora de campo, o que por si só já justifica botar o pé atrás em relação à pretensa modernidade.

O recurso do vídeo deveria ser utilizado apenas em último caso, diante de lances realmente duvidosos ou que implicassem em falhas graves por parte do árbitro. Por exemplo, como naquele célebre gol com a mão de Maradona contra a Inglaterra, na Copa do Mundo de 1986.

Lances razoavelmente claros, como o da partida Kashima x Atlético Nacional, nem deveriam ser considerados. Isto leva, ainda, a outro questionamento importante: quem está à frente das telas de monitoramento e avalia a necessidade de alertar o árbitro? Porque esse primeiro passo pode ser guiado por interesses externos.

No Brasil, se essa ideia de jerico vingar, teremos comissões de analistas formadas à moda do STJD, onde os auditores são conhecidos pelas bandeiras clubísticas. Pensemos na balbúrdia que isso pode vir a acarretar.

Outro aspecto tem a ver com os meios tecnológicos disponíveis, reconhecidamente caros para serem implantados em todas as competições oficiais. Num país como o nosso, onde boa parte dos clubes de Série B para baixo ainda tem estádios precários e acanhados, fico a imaginar o preço a ser pago pela adoção do sistema de vídeo para auxiliar a arbitragem.

Que o Mundial de Clubes sirva para sepultar, no nascedouro, essa ideia bizarra de implantar no futebol a teoria do Big Brother. O futebol é simples e deixa de ser maravilhoso quando alguém cisma de complicar as coisas.

VEM SEGUIR OS CANAIS DO DOL!

Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.

Quer receber mais notícias como essa?

Cadastre seu email e comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Conteúdo Relacionado

0 Comentário(s)

plus

Mais em Gerson Nogueira

Leia mais notícias de Gerson Nogueira. Clique aqui!

Últimas Notícias